16.1.04
As críticas que eu fazia aqui, agora encontram-se no portal internet português do Luxemburgo: www.bomdia.lu, rubrica Cinema.
14.1.04
Žert
Žert (que quer dizer, em checo, a brincadeira ou a piada), é um filme do realizador checoslavaco Jaromil Jireš, baseado num romance de Milan Kundera (sim , o mesmo da Insustentável Leveza do Ser, um excelente livro que deu um mau e "overrated" filme).
Žert é um filme sobre a ditadura do partido, sobre a ausência do indíviduo numa sociedade em que tudo se justifica através da causa partidária e da luta pelo comunismo. A personagem principal é um homem que cumpriu uma pena de seis anos de trabalhos forçados porque um dia disse à sua namorada - por brincadeira, num postal - que o optimismo é o ópio da espe´cie humana e acrescentou um sonoro "viva Trotsky!". O postalinho chegou às mãos dos responsáveis da célula do partido na universidade que Ludvik frequentava e o colectivo, presidido por um tal Zemanek, expulsa-o do estabelecimento de ensino e à inevitável reeducação que consiste num árduo trabalho nas minas.
O espectador encontra Ludvik Jahn pela primeira vez quando este conhece a mulher de Zemanek. O protagonista urde então um plano para se vingar do carrasco seduzindo-lhe a mulher.
O passado descobrimo-lo em flashbacks sucessivos (que nos fazem pensar que Tarantino não inventou nada de novo) onde Ludvik quase nunca é personagem visível apesar de ser sempre o elemento central (substituído pela câmara). Como se o realizador quisesse provar que antes Ludvik era apenas mais uma engrenagem da grande roda do partido, sem personalidade nem real existência. Mas todo este drama é contado com um sentido de humor que provoca um permanente sorriso e algumas gargalhadas, a fazer lembrar algumas comédias nórdicas.
Žert foi filmado em 1968 e inscreve-se na nova vaga que fez furor nos anos 60. Naturalmente a Primavera de Praga não ajudou ao êxito do filme que, rezam as crónicas, teve distribuição confidencial na altura e acabou por só chegar verdadeiramente aos ecrãs vinte anos depois. Diz ainda a lenda que Milan Kundera "himself" participou na adpatação e esteve sempre presente durante as rodagens; ele que, mais que ninguém, sabia que afinal o comunismo no seu país não passava de uma brincadeira, ainda que de mau gosto.
Žert é um filme sobre a ditadura do partido, sobre a ausência do indíviduo numa sociedade em que tudo se justifica através da causa partidária e da luta pelo comunismo. A personagem principal é um homem que cumpriu uma pena de seis anos de trabalhos forçados porque um dia disse à sua namorada - por brincadeira, num postal - que o optimismo é o ópio da espe´cie humana e acrescentou um sonoro "viva Trotsky!". O postalinho chegou às mãos dos responsáveis da célula do partido na universidade que Ludvik frequentava e o colectivo, presidido por um tal Zemanek, expulsa-o do estabelecimento de ensino e à inevitável reeducação que consiste num árduo trabalho nas minas.
O espectador encontra Ludvik Jahn pela primeira vez quando este conhece a mulher de Zemanek. O protagonista urde então um plano para se vingar do carrasco seduzindo-lhe a mulher.
O passado descobrimo-lo em flashbacks sucessivos (que nos fazem pensar que Tarantino não inventou nada de novo) onde Ludvik quase nunca é personagem visível apesar de ser sempre o elemento central (substituído pela câmara). Como se o realizador quisesse provar que antes Ludvik era apenas mais uma engrenagem da grande roda do partido, sem personalidade nem real existência. Mas todo este drama é contado com um sentido de humor que provoca um permanente sorriso e algumas gargalhadas, a fazer lembrar algumas comédias nórdicas.
Žert foi filmado em 1968 e inscreve-se na nova vaga que fez furor nos anos 60. Naturalmente a Primavera de Praga não ajudou ao êxito do filme que, rezam as crónicas, teve distribuição confidencial na altura e acabou por só chegar verdadeiramente aos ecrãs vinte anos depois. Diz ainda a lenda que Milan Kundera "himself" participou na adpatação e esteve sempre presente durante as rodagens; ele que, mais que ninguém, sabia que afinal o comunismo no seu país não passava de uma brincadeira, ainda que de mau gosto.
8.1.04
5.1.04
Scary Movie 3
Para falar verdade ainda não fui ver o filme. Lotação esgotada há três dias. Os adolescentes que saíam da sala quando eu tentava arranjar bilhete diziam que é excelente.
3.1.04
Thirteen
Já passou o tempo dos "sweet sixteen" e então os "nineteen forever" parecem uma imensa caretice! O que está a dar é ter 13 anos. Ser uma adolescente popular e sair com as amigas às compras (ou melhor, para roubar roupas) e utilizar todo o tipo de drogas, de preferência as mais baratas. E para arredondar os fins de mês pode-se sempre brincar aos "dealers". E não estamos a pensar em meninas do Bronx ou de um "ghetto" desfavorecido dos States... muitas destas meninas são originárias da classe média, das famosas famílias disfuncionais, termo que os americanos cunharam mas que fica bem a tanta gente pelo mundo fora.
O filme Thirteen é baseado nos escritos de uma menina chamada Nikki Reed que agora tem 15 anos e interpreta um dos papéis principais. Com ela contracena Evan Rachel Wood, numa interpretação fabulosa daquelas que nos lembram porque é que o cinema americano reina sem igual sobre o mundo da Sétima Arte. A completar o ramalhete estão Holly Hunter e Deborah Kara Unger.
A história é simples: menina encontra amiga mais batida e essa má companhia transforma a melhor aluna do liceu numa miúda vazia e delinquente. O pesadelo de qualquer progenitor.
O filme vive mais da interpretação das duas protagonistas que do argumento, mas deixa o espectador preocupado por elas e por quem as rodeia. Durante Thirteen deviam lembrar-nos mais vezes que elas só têm 13 anos, porque muitas vezes lhes damos 16 ou 18 ou mais.
Thirteen é um filme interessante e importante que só enferma da teoria da relatividade. Depois de Larry Clark (Kids e o genial Ken Park) e de Elephant de Gus Van Sant, todos os filmes sobre adolescentes vão ter de saltar uma fasquia que está a mais de nove metros de altura.
O filme Thirteen é baseado nos escritos de uma menina chamada Nikki Reed que agora tem 15 anos e interpreta um dos papéis principais. Com ela contracena Evan Rachel Wood, numa interpretação fabulosa daquelas que nos lembram porque é que o cinema americano reina sem igual sobre o mundo da Sétima Arte. A completar o ramalhete estão Holly Hunter e Deborah Kara Unger.
A história é simples: menina encontra amiga mais batida e essa má companhia transforma a melhor aluna do liceu numa miúda vazia e delinquente. O pesadelo de qualquer progenitor.
O filme vive mais da interpretação das duas protagonistas que do argumento, mas deixa o espectador preocupado por elas e por quem as rodeia. Durante Thirteen deviam lembrar-nos mais vezes que elas só têm 13 anos, porque muitas vezes lhes damos 16 ou 18 ou mais.
Thirteen é um filme interessante e importante que só enferma da teoria da relatividade. Depois de Larry Clark (Kids e o genial Ken Park) e de Elephant de Gus Van Sant, todos os filmes sobre adolescentes vão ter de saltar uma fasquia que está a mais de nove metros de altura.
2.1.04
The Dreamers
A última vez que Bernardo Bertolucci escolheu retratar adolescentes a reacção dos críticos foi quase generalizada. O velho Bernardo estava ultrapassado pela evolução dos tempos e dos costumes. Nunca concordei: Stealing Beauty é um filme quente, sensual e a música dava-lhe então uma actualidade que o transformava numa espécie de fresco sincrético. Não era uma obra-prima mas uma fita escorreita que dava gosto ver do princípio ao fim.
The Dreamers passa-se em Paris na primavera de 1968. Três adolescentes aproximam-se através da paixão pelo cinema. Dois irmãos gémeos, Théo e Isabelle, cruzam Matthew, um jovem americano e passam juntos umas semanas. O casal de irmãos, extrememente cúmplice, adopta o novo amigo porque ele ama a sétima arte. Juntos revivem grandes momentos do cinema e nós com eles. Essa é a primeira parte do filme: três quartos de hora feita para ensinar aprendizes cinéfilos ou para encantar os mais letrados. A relação dos três jovens evolui em paralelo com os acontecimentos de Maio de 68 que tansformam Paris numa cidade em revolução.
Matthew, o americano, discute frequentemente com o jovem Théo sobre cinema, política e questões sociais. Os dois vêem as coisas de forma muito distinta, apesar de partilharem os mesmos ideais. Bertolucci toma partido pela visão do jovem Matthew. Aproveitando o recuo histórico, o realizador demonstra como os idealistas de 68 se baseavam em mitos de sociedades igualitárias e pacíficas tais como o maoísmo.
The Dreamers é uma espécie de revisão da História, para mostrar que, como já dizia Raymond Aron naquela altura, o Maio de 68 não trouxe nada ao mundo a não ser caos nas ruas, já que os líderes da revolta nunca propuseram alternativas. Bertolucci diz tudo isto pela boca de Matthew, assim como insiste que o problema da maioria dos miúdos que fizeram o Maio de 68 nas ruas eram adolescentes de boas famílias, um tanto ou quanto decadentes, que bebiam as garrafas de Chateau Laffite dos pais antes de irem para a rua atirar cocktails Molotof contra a polícia.
The Dreamers passa-se em Paris na primavera de 1968. Três adolescentes aproximam-se através da paixão pelo cinema. Dois irmãos gémeos, Théo e Isabelle, cruzam Matthew, um jovem americano e passam juntos umas semanas. O casal de irmãos, extrememente cúmplice, adopta o novo amigo porque ele ama a sétima arte. Juntos revivem grandes momentos do cinema e nós com eles. Essa é a primeira parte do filme: três quartos de hora feita para ensinar aprendizes cinéfilos ou para encantar os mais letrados. A relação dos três jovens evolui em paralelo com os acontecimentos de Maio de 68 que tansformam Paris numa cidade em revolução.
Matthew, o americano, discute frequentemente com o jovem Théo sobre cinema, política e questões sociais. Os dois vêem as coisas de forma muito distinta, apesar de partilharem os mesmos ideais. Bertolucci toma partido pela visão do jovem Matthew. Aproveitando o recuo histórico, o realizador demonstra como os idealistas de 68 se baseavam em mitos de sociedades igualitárias e pacíficas tais como o maoísmo.
The Dreamers é uma espécie de revisão da História, para mostrar que, como já dizia Raymond Aron naquela altura, o Maio de 68 não trouxe nada ao mundo a não ser caos nas ruas, já que os líderes da revolta nunca propuseram alternativas. Bertolucci diz tudo isto pela boca de Matthew, assim como insiste que o problema da maioria dos miúdos que fizeram o Maio de 68 nas ruas eram adolescentes de boas famílias, um tanto ou quanto decadentes, que bebiam as garrafas de Chateau Laffite dos pais antes de irem para a rua atirar cocktails Molotof contra a polícia.
21.12.03
In the Cut
Jane Campion nunca conseguiu regressar aos mundo original e belo que criou com The Piano, nem logrou nunca recuperar a originalidade e os maneirismos dessa obra-prima. In the Cut é o ensaio mais feliz na busca incessante da australiana do regresso ao fulgor de The Piano.
Dizer que In the Cut é um “thriller” é esquecer a intriga principal e o verdadeiro objecto do filme. mas, de facto, a história que se desenrola perante o espectador é de carâcter policial e nnao podia ser mais cinematográfica: um “serial-killer” mata e esquarteja jovens mulheres num bairro de Nova Iorque. Esse pano de fundo serve paneas como pretexto a Campion para nos contar como pode ser a vida das mulheres sós que agora têm trinta e tais ou mais e se agarram à vida pelos mais estranhos e instáveis cordéis.
Meg Ryan é a protagonista, um professora de inglês que foge dos homens. Ryan é uma escolha perfeita para este papel, ela que raramente se despiu quando era nova e que aqui se mostra sem complexos, mesmo se sabe que já não exibe o peito que tanto excitou Billy Crystal em When Harry Met Sally. Jennifer Jason Leigh é a irmã de Meg, uma mulher ainda mais perdida e que se refugia num vício: o sexo.
O sexo está no centro deste filme. É pelo sexo que a protagonista acaba por colocar a sua vida em perigo, ela que nem sequer liga aos homens e prefere pensar no que poderia fazer com eles a realizar as suas fantasias. “Não achas isso aborrecido?”, pergunta a sua irmã, incrédula.
Jane Campion consegue impor um ritmo quase ideal (o final é demasiado esticado) e a tensão (sensual, principalmente) desenvolve-se para criar um ambiente de “thriller” a lembrar o mestre Hitchcock. A referência final é evidente, já que a sequência tem lugar num farol, sob as luzes da bela ponte George Washington.
Dizer que In the Cut é um “thriller” é esquecer a intriga principal e o verdadeiro objecto do filme. mas, de facto, a história que se desenrola perante o espectador é de carâcter policial e nnao podia ser mais cinematográfica: um “serial-killer” mata e esquarteja jovens mulheres num bairro de Nova Iorque. Esse pano de fundo serve paneas como pretexto a Campion para nos contar como pode ser a vida das mulheres sós que agora têm trinta e tais ou mais e se agarram à vida pelos mais estranhos e instáveis cordéis.
Meg Ryan é a protagonista, um professora de inglês que foge dos homens. Ryan é uma escolha perfeita para este papel, ela que raramente se despiu quando era nova e que aqui se mostra sem complexos, mesmo se sabe que já não exibe o peito que tanto excitou Billy Crystal em When Harry Met Sally. Jennifer Jason Leigh é a irmã de Meg, uma mulher ainda mais perdida e que se refugia num vício: o sexo.
O sexo está no centro deste filme. É pelo sexo que a protagonista acaba por colocar a sua vida em perigo, ela que nem sequer liga aos homens e prefere pensar no que poderia fazer com eles a realizar as suas fantasias. “Não achas isso aborrecido?”, pergunta a sua irmã, incrédula.
Jane Campion consegue impor um ritmo quase ideal (o final é demasiado esticado) e a tensão (sensual, principalmente) desenvolve-se para criar um ambiente de “thriller” a lembrar o mestre Hitchcock. A referência final é evidente, já que a sequência tem lugar num farol, sob as luzes da bela ponte George Washington.