28.9.03

Salões de chá

Sempre gostei de salões de chá. A minha mãe, e mais frequentemente a minha tia-avó, levavam-me até cafés para senhoras que se chamavam salões de chá. Para mim era indiferente o tipo de clientela que frequentava esses locais, iguais aos outros cafés ou pastelarias.
Sempre gostei, contudo, das maneiras dos empregados. Nesses sítios que a Tiji frequentava, eram mais simpáticos que na pastelaria Moderna ou no café Albano e as senhoras pareciam ser todas amigas de velha data. Lembro-me da Xai Xai, no Porto, e do Mário, em Amarante, onde os bolos (quem não for do norte substitua por pastéis para melhor compreensão) eram excelentes e mesmo ali ao lado podiam comprar-se os cromos de todas as colecções que eu andava a fazer, incluindo os raríssimos autocolantes de "O Mundo de Fúria".
No Luxemburgo há muitos salões de chá. A tradição e a idade dos habitantes do Grão-Ducado garante um mercado estável. Talvez seja por isso que nessas casas o atendimento seja dos piores neste país, que já tem, de qualquer forma, como ex-libris comercial a antipatia.
As piores casas de chá são aquelas que se promoveram ao nível de salão-de-chá/traiteur/restaurante. O crescimento forçado abalou definitivamente as estruturas e o limitado profissionalismo dos empregados, difíceis de encontrar, complica as coisas. E quem paga a factura é a clientela.
Os preços, naturalmente, aumentaram quando a subida de divisão se fez, mas o pior preço a pagar é o tempo que se passa: meia hora à espera de uma pizza aquecida no micro-ondas ou quinze minutos é o tempo que demora um sumo de laranja a ser espremido.
Ontem, num desses estabelecimentos uma senhora alemã dirigiu-se ao gerente, que por acaso estava atrás do balcão, dizendo que, cliente há trinta anos daquela casa, nunca tinha sido tão mal servida. Nem o facto de a reclamação ter sido feita numa língua ideal para protestar fez o senhor levantar os olhos dos capuccinos que preparava. Só no momento de lhe dar o troco balbuciou: "estamos desesperados de trabalho. Muitos clientes na esplanada!".
É verdade, o longuíssimo Verão 2003 (graças a Deus!) apanhou desprevenidos muitos restauradores, mas essa desculpa não serve para o resto do ano, em que o serviço sempre foi lento e a maioria dos empregados antipáticos e desagradáveis. Ontem, eliminei as minhas teorias da falta de formação e da inexperiência. Afinal a antipatia e a falta de respeito transmite-se directamente do "senhor Oberweis" ou do "senhor Kohler" desde o alto da pirâmide até ao mais jovem aprendiz.

27.9.03

PS2

Comprei uma Playstation 2. O acontecimento só é importante porque desde 1977 que não comprava uma consola de jogos, na altura um Videopac da Philips, e porque em 2003 tenho 37 anos bem contados.
Tenho vergonha de ter comprado uma PS2? Não acho, mas tudo indica que sim. Para começar, não consegui comprá-la sozinho. Aliciei amigos, tentei convencê-los a partilhar o pecadilho. Vamos comprá-la a meias Filipe, para a rentaibilizar, já que nem eu nem tu temos muito tempo para passar a jogar. O Filipe disse que não. Tentei aliciá-lo com aquilo que ele mais gosta depois dos computadores e de umas peúgas Boss. É só para utilizar com jogos de carros; Colin McRaes e coisas dessas... O Filipe continuou a achar que era uma estupidez e lá seguimos nós para a secção dos DVD.
O Hugo reagiu melhor do que eu pensava. Propus ao Filipe comprar uma PS2 a meias. Que é que ele respondeu? Cortou-se. Parece-me uma excelente ideia; eu era menino para alinhar...
O Hugo alinhou. Eu esqueci-me da PS2 durante uns dias até que ele na terça-feira me telefonou do supermercado. Estou aqui em frente às Playstation e o preço é inferior a 200 euros. Compro? Compra. Comprou.
Hoje o Hugo passou-me a PS2. Não fui a correr para casa experimentar o único jogo de que disponho, mas quando cheguei ao aconchego do lar não me apetecia nada mais senão ver os bólides do Gran Turismo a acelerar no ecrã do meu televisor. Ainda por cima tem o Subaru! E o Civic do Roso! O barulho é igualzinho ao dos carros a sério. Está bem, vou pôr mais baixo por causa dos vizinhos. De facto já são três da manhã...
A nossa PS2 é o máximo. Mas precisa de um volante, de um segundo joystick para os jogos a dois e um cartão de memória. Hugo, temos de investir mais uns 200 euros. Tudo bem, afinal as corridas de carros sem volante não têm piada nenhuma.
Amanhã vou a uma loja onde trabalha um velho amigo e comprar os acessórios todos. Naturalmente vou-lhe dizer que é para oferecer ao filho de um amigo. Não é por vergonha de aos 37 anos ter comprado uma Playstation, é só porque a comprei na concorrência e ele podia ficar sentido.

25.9.03

Benfica

Ontem fui ver o Benfica. Sempre que os clubes portugueses jogam num raio de uns 300 quilómetros é tentador ir vê-los e apoiá-los. Ontem, o Benfica jogou a menos de 200 quilómetros de minha casa. Foi fácil ir vê-lo defrontar uma equipazeca belga, mas foi difícil apoiá-lo. Foi mesmo difícil não assobiar.
"Com um ordenado como o teu até eu corria mais", gritava um benfiquista com a esperança que Simão Sabrosa o ouvisse. Mas não, os jogadores do Benfica não ouvem ninguém. Como não ouviram os gestos desesperados de Camacho que os mandava subir no terreno. Como não ouviram a força da camisola que envergam e que devia assustar qualquer adversário.
Hoje, a camisola do Benfica é vestida por jogadores de segunda, sem motivação, sem objectivo. Se Eusébio estivesse morto daria voltas na tumba. Como não está, deve sofrer ainda mais.

23.9.03

No Lux não há nada!

O Roso ontem enervou-se porque no Luxemburgo não há mesas de pingue-pongue. "Ando à procura de um sítio para jogar pingue-pongue; onde posso ir?", perguntou-me ele à espera que não houvesse resposta evidente. E não há. Eu só conheço uma mesa de pingue-pongue utilizável pelos comuns mortais que são os funcionários. Fica num dos edifícios da Comissão. "E clubes não há? Deve haver mais em Águeda!". Duvidei. Mandei vir. Protestei. "Informa-te!", gritei-lhe. Estou convencido que deve haver uma dúzia de sítios onde jogar o desporto favorito dos chineses.
Enerva-me quando ouço dizer que no Luxemburgo não acontece nada, que não há nada. É a mais pura mentira. Há tanta coisa que por vezes há demais. Como há demasiados clubes de tiro ao arco, por exemplo, não há nenhum que seja excepcional porque dividem-se os praticantes e os sócios-pagantes. Clubes de fanáticos dos automóveis há para todas as marcas - da Subaru já são três! E detestam-se entre eles e evitam encontrar-se nos "meetings" que os vizinhos alemães organizam.
No Luxemburgo há tudo e há de tudo, só que ou está mal publicitado ou mal distribuído. Eu, por exemplo, só tenho dois carros e conheço um tipo que tem cinco, entre os quais um Ferrari.

Swiss

Os problemas da companhia aérea Swiss lembraram-me o meu encontro com um dos gurus do design e do estilo, o canadiano Tyler Brûlé. Foi este senhor que criou os novos logos da Swiss e toda a "corporate image". Quem é Tyler Brûlé? Jornalista de formação, foi repórter da BBC e deixou o trabalho de campo depois de ter sido ferido enquanto cobria a guerra do Golfo. As balas, como se sabe, podem levar a grandes decisões e neste caso Brûlé passou a escrever como free-lance para a Stern e a Vanity Fair (muito menos perigoso).
Insatisfeito, Brûlé teve uma visão: criar uma revista "branchée", destinada uma classe mais alta que média, aos jovens urbanos metropolitanos que viajam muito por prazer ou obrigação e que possuem lofts mobilados com móveis de design. Tyler pegou em todo o dinheiro que tinha e passeou-se com algumas maquetes de revista pelos escritórios dos presidentes de grandes marcas, sobretudo na área da moda. Um dia, a Gap assinou um contrato de um ano. E, como diz Tyler, basta que um assine para que Dolce & Gabbana, Armani e todos os outros implorem para estar presentes. O projecto viria a chamar-se Wallpaper. Uma revista revolucionária que já fez discípulos e concorrentes.
Entretanto, Brûlé perdeu a Wallpaper. As dívidas acumulavam-se e foi obrigado a aceitar uma oferta quase insultuosa. Hoje, ao que sei, a Wallpaper está de saúde.
Brûlé criou na Suiça uma empresa de design gráfico e consultadoria de imagem destinada a multinacionais. O seu primeiro cliente foi a Swiss (e segundo a teoria do dominó de Tyler, muitos se lhe seguiram). Tyler chegou à sede da transportadora e disse-lhes que a primeira coisa a fazer era eliminar a cruz: "Como é que vocês querem voar para destinos onde a cruz é odiada arvorando-a numa asa de três metros?". Os dirigentes da ex-Swissair e da futura Swiss não lhe deram razão, mas acharam que Tyler tinha ideias para vender e atribuiram-lhe o "relooking" da empresa.
Hoje em dia, ainda tenho a impressão de que Tyler Brûlé vende vento, chuva e mau tempo sem ter sequer uma formação de meteorologista. Teimoso e arrogante, ele prefere definir-se como motivado e convicto. Até é um tipo agradável quando não se fala de trabalho, mas na verdade, Brûlé nunca fala de trabalho; para ele a vida é um passeio patrocinado por empresas que precisam de gastar dinheiro e porque não fazê-lo numa nova sala recheada de móveis a 100.000 euros? O Tyler tem de certeza uma boa ideia sobre a decoração da sala do presidente e até conhece um antiquário...

Sem carros

Hoje festejou-se com discrição o dia da mobilidade e da cidade sem carro e dos autocarros gratuitos. A iniciativa europeia mais demagógica dos últimos tempos só seria levada a sério se se criassem as alternativas necessárias. Mas não. No Luxemburgo os transportes públicos eram gratuitos, mas não estavam mais cheios que de costume (ou seja, estavam quase vazios). As ruas estavam como sempre, e o trânsito até estava mais lento ao final da tarde porque chovia e os luxemburgueses não sabem conduzir com a estrada molhada (realidade que os aflige 200 dias por ano).
Com o pretexto da mobilidade e do dia europeu sem carro, voltam à praça pública os anti-automóvel. Primeiro ponto na agenda: diminuir os limites de velocidade para 30 km/h nas localidades e 70 nas estradas nacionais (os mais radicais querem também reduzir para 100 o limite das auto-estradas que recentemente passou de 120 para 130). Segundo: proibir o acesso dos carros ao centro das cidades.
Este último objectivo está quase atingido na capital do Luxemburgo. Actualmente, apenas os residentes podem estacionar as suas viaturas na cidade sem pagar e isto por períodos limitados. Os que morarem noutros pontos do país ou os estrangeiros têm de pagar tarifas que podem chegar a mais de um euro por hora.
Os carros correm risco de extinção, embora a WWF ainda não tenha lançado abaixo-assinados, nem o Greenpeace organizado acções de publicidade contra a prepotência das autoridades que me impedem de andar a 200 à hora e que me pedem dinheiro pelo espaço que o meu carro ocupa quando parado. A mim que já pago imenso pela gasolina quando estou em movimento.
Nisto do dia sem carros o exemplo chegou do Porto que colocou barreiras para fechar certas zonas da cidade e que à hora de almoço as retirou para tentar resolver a situação caótica que se tinha gerado nas árterias da cidade.

21.9.03

RTPorto

Eu até sou do norte e tenho uma costelazita regionalista, mas os serviços de notícias das 13 horas provocam-me urticária todos os fins-de-semana. Será que o jogo Porto-Benfica de hoje merece abrir o jornal (talvez) e uma reportagem de vinte minutos (de certeza que não), com entrevistas a velhas glórias do tipo documentário sobre o velho estádio das Antas? E sete minutos depois, um bloco de desporto onde se regressa naturalmente ao tema!
A indigência dos serviços de informação da RTP é assustadora. A falta de profissionalismo e bom senso preocupante. No Porto há que acrescentar aos defeitos de quem faz televisão um provincianismo flagrante (porque não dizê-lo, ainda que me doa?). Ou será que a RTP da cidade invicta responde à crítica que reflecte apenas os desejos dos espectadores nortenhos? Não quero acreditar que no norte o fanatismo futebolístico exija estes bónus do serviço público de televisão, mas se for verdade tenho pena.

Abruptamente esta manhã...

Descobri que o Abrupto decidiu incluir um pedaço da canção de "early morning blues" que lhe enviei ontem e que é um dos temas que mais (e ainda) me arrepia pelo desespero que transmite. Trata-se dos Alabama 3, também conhecidos como A3, e desconhecidos de quase toda a gente, excepto talvez daqueles que compraram a banda sonora de "Gone in 60 seconds" (esqueçam o filme que é mau, mas comprem o CD que é uma excelente compilação de RnB, new rap e outra música negra).
Fiquei contente porque aqueles versinhos vão ser lidos por cerca de cinco mil nautas, muitos mais do que se eu os pusesse aqui, onde o meu contador da Bravenet continua a mostrar um olímpico 000000. Será que não está a funcionar?

20.9.03

To Ikea or not to Ikea

Uma das coisas boas de viver no Luxemburgo é ter sempre um Ikea pertinho de si. A industrialização e a supermarketização do mobiliário ofereceu-nos Ikeas, Habitats e outras marcas escandinavas que por acaso nem sempre o são. A declaração feita em The Fight Club, em que a personagem Tyler Durden implora "Deliver me from swedish furniture", não tem muitos seguidores no Grão-Ducado onde vivo.
Vão-me responder que é por falta de outras actividades "mais culturais". Mentira. Pego no exemplar desta semana da revista Nico e detecto pelo menos três coisas boas para fazer esta tarde (de que me vou pessoalmente abster).
Depois vão-me dizer que as lojas luxemburguesas de móveis são caras. Verdade. Mas procurem em Portugal uma loja equivalente (digamos a Interforma) e espantem-se ao descobrir os mesmos preços que nos móveis Bonn.
Já perceberam que eu não gosto de móveis. Pois não. Gosto é de espaço. E os móveis apropriam-se do meu espaço, dos meus pedaços de chão, da minha "carrelage" na casa de banho e do soalho da minha sala.
Agora se me permitem tenho de me ausentar. Vou com o Filipe a casa da minha ex buscar uns móveizitos que lá deixei armazenados desde que nos separámos.

Dúvidas

Ontem e hoje tornei-me um viciado em blogues. Não sei se foi porque não me apetecia trabalhar ou porque me tenho deitado tarde, mas passeei-me por umas dezenas de blogues. Tanto passeio para chegar à conclusão de que a vox populi tem razão e que os mais visitados são mesmo os melhores, com excepção feita para o célebre mentiroso que, de facto, de blogue não tem nada e de interesse pouco tem.
Já criei quatro blogues antes deste. Apaguei-os ou deixei-os vegetar. Escrevo também umas reflexões no blogue do meu grupo de amigos, o recém-nascido Luxemburgo Oficioso. Mas parece-me que eles, como eu, ainda estão à procura do interesse desta coisa e do espírito a imprimir às prosas.
Um blogue é necessariamente individual e por isso aqui estou, sozinho, ainda que em versão "light". Este adjectivo inspira-se bastante da revolução alimentar que operei em mim mesmo na sequência de uma doença-relâmpago, mas também me deixa asas para um futuro registo "hard" (o blogue já existe mas vazio), onde muitas vezes me apetecerá mais escrever que aqui.
Por causa do blogue ficam, por enquanto, na gaveta as ideias de escrever colunas regulares neste ou naquele periódico, porque se houver meia dúzia de internautas que me espreitem já fico com a sede de fama e opinação satisfeitas.

Manhãs de Setembro

O pior dia no Luxemburgo é o domingo. À tarde, porque não faço ideia como são as manhãs já que não as frequento há uns tempos. Se o domingo for de Setembro é pior ainda. Começa a chuva e então a incerteza de que o Verão acabou desaparece perante as provas dadas pela natureza que se esmera em gotas grossas, relâmpagos e temperaturas abaixo de 10 graus.
Os domingos à tarde no mês de Setembro dão vontade a qualquer um de emigrar. (Não percebo como há gente que está apaixonada por este país ao ponto de lhe chamar nome de mulher). Um dia destes emigro. Como dizia alguém (que não merece sequer ser citado num blogue, mas que - há que reconhecê-lo - disse algumas coisas acertadas), sempre que se muda de país muda-se também de classe social. Esse é o meu receio. Mudar para baixo. Ainda há umas horas diziam na televisão francesa que os vendedores das melhores boutique de luxo de Paris, nomeadamente na place Vendôme, ganham bué de pasta; e quantificaram: "pelo menos 1.500 euros". Ou seja, o ordenado mínimo de qualquer vendedor com contrato aqui no nosso Grão-Ducado quentinho e confortável e onde sabe bem viver...

Noir Désir

Estou farto de ouvir falar da morte de Marie Trintignant. Era uma actriz que sempre achei simpática, mas nunca a coloquei em nenhuma galeria especial de actores franceses. As trágicas circunstâncias da sua morte permitiram-lhe uma projecção mediática póstuma inédita. Bertrand Cantat, o vocalista e líder do grupo Noir Désir, preso num cárcere de Vilnius, é objecto de todas as análises na praça pública. Amigos, jornalistas, colegas de ofício, todos são chamados a testemunhar sobre Cantat, sobre Trintignant e sobre a (curta) relação que o cantor e a actriz mantiveram.
O que me irrita não é que se fale deste caso. A violência doméstica - parece-me que é disso que se trata - é um flagelo que começa a conhecer as páginas dos jornais e a despoletar reacções dos políticos que buscam (difíceis) soluções. O que me preocupa - e, porque não dizê-lo, irrita - é o ar surpreendido, "abassourdido", dos comentadores que se espantam com o facto de um homem moderno, rebelde, "que sempre integrou os ideais de Maio de 68", seja capaz de espancar a namorada... até à morte. "Bertrand Cantat lutou pela causa palestiniana e bateu-se no mar alto com os activistas do Greenpeace", disse uma jornalista do Le Monde. "Cantat era um homem de esquerda, que desempenhou um papel importantíssimo na luta contra Le Pen, o que surpreende ainda mais que tenha feito isto", disse um outro comentador.
Fiquei assim a saber que só os homens de direita batem nas mulheres. A amálgama entre a ideologia e a conduta social, ou a participação neste ou naquele movimento, atinge pontos altos no caso Cantat-Trintignant. E isso aflige-me, preocupa-me, a mim, que nunca me considerei de esquerda. Eu, sou, só por isso, suspeito à partida de todas as maldades do mundo, da violência doméstica à poluição dos mares e florestas. Eu que até separo o vidro, o papel e o plástico sou um culpado ideal para acusar de transgressões diversas; menos da droga porque essa ilegalidade imposta está reservada a uma esquerda sapiente.
Se um dia tenho o azar de perder a cabeça e pôr um olho à Belenenses à minha miúda não haverá quem me valha. E certamente que até encontrarei quem diga: "Desse cabrão machista não se esperava outra coisa; a vizinha até disse que tem ideia de o ter visto num comício do PP!".