A última vez que Bernardo Bertolucci escolheu retratar adolescentes a reacção dos críticos foi quase generalizada. O velho Bernardo estava ultrapassado pela evolução dos tempos e dos costumes. Nunca concordei: Stealing Beauty é um filme quente, sensual e a música dava-lhe então uma actualidade que o transformava numa espécie de fresco sincrético. Não era uma obra-prima mas uma fita escorreita que dava gosto ver do princípio ao fim.
The Dreamers passa-se em Paris na primavera de 1968. Três adolescentes aproximam-se através da paixão pelo cinema. Dois irmãos gémeos, Théo e Isabelle, cruzam Matthew, um jovem americano e passam juntos umas semanas. O casal de irmãos, extrememente cúmplice, adopta o novo amigo porque ele ama a sétima arte. Juntos revivem grandes momentos do cinema e nós com eles. Essa é a primeira parte do filme: três quartos de hora feita para ensinar aprendizes cinéfilos ou para encantar os mais letrados. A relação dos três jovens evolui em paralelo com os acontecimentos de Maio de 68 que tansformam Paris numa cidade em revolução.
Matthew, o americano, discute frequentemente com o jovem Théo sobre cinema, política e questões sociais. Os dois vêem as coisas de forma muito distinta, apesar de partilharem os mesmos ideais. Bertolucci toma partido pela visão do jovem Matthew. Aproveitando o recuo histórico, o realizador demonstra como os idealistas de 68 se baseavam em mitos de sociedades igualitárias e pacíficas tais como o maoísmo.
The Dreamers é uma espécie de revisão da História, para mostrar que, como já dizia Raymond Aron naquela altura, o Maio de 68 não trouxe nada ao mundo a não ser caos nas ruas, já que os líderes da revolta nunca propuseram alternativas. Bertolucci diz tudo isto pela boca de Matthew, assim como insiste que o problema da maioria dos miúdos que fizeram o Maio de 68 nas ruas eram adolescentes de boas famílias, um tanto ou quanto decadentes, que bebiam as garrafas de Chateau Laffite dos pais antes de irem para a rua atirar cocktails Molotof contra a polícia.